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terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

FOGUETES E MÃOS

Lendo um livro de memórias do grande poeta Pablo Neruda, "Confesso que Vivi", me deparei com uma frase que me inspirou escrever esta postagem. O poeta chileno, numa visita à antiga União Soviética, expressa a sua decepção com a chamada "guerra fria", alimentadora de uma invisível cortina de ferro, a impedir seres humanos de visitarem sem maiores transtornos outros seres humanos. Sua frase é encantadora quando ele diz que "construímos velozes foguetes que cruzam o espaço mas não conseguimos apertar as mãos com fraternidade". A frase não é literal mas esse é o conteúdo. A guerra fria isola os homens. Cria ilhas humanas.

Pablo Neruda era comunista e ateu, mas externava um profundo senso de fraternidade e ternura por outros seres humanos. Não entrava em conflito, que se saiba, com outras pessoas porque não fossem comunistas ou porque acreditavam em Deus. Era respeitoso para com todos. O exemplo deveria servir aos religiosos. Criam suas guerras frias pois isolam irmãos uns dos outros em função de frequentarem templos diferentes. E Jesus já havia previsto essa ignomínia que seria perpetrada em seu nome, no movimento da cristandade.

Se um poeta comunista pode ( e deve) colocar em pauta sua visão "religiosa", embora não fosse religioso, por que um religioso não poderia auxiliar a política a se elevar? faço essa colocação para dizer que os que cultivam suas convicções podem, sim, partilhar da ciencia política, colaborando para sua mudança. Se os que se acreditam bons se omitem de ajudar para que uma área tão importante da vida humana como é a política se aperfeiçoe, como se lamentar dos seus nefastos efeitos?

Esta minha colocação não objetiva dizer que todo religioso deva ser candidato a algum cargo. Isso tambem pode ocorrer, desde que traga vocação ou o sincero desejo de tentar fazer diferente. Não vou entrar aqui na questão de ser ou não fácil. Me refiro a importância de debatermos idéias sobre a vida social, externar pontos de vistas e sugerir caminhos. Sempre com a educação e elevação que devem nortear as atitudes de quem prima por valores espirituais. Um dos motivos dessa reflexão é porque, de tempos em tempos, encontro confrades em conflito sobre se é certo se interessarem por política.

O que não devemos fazer é utilizarmos o templo que frequentamos e o envolvimento que venhamos a ter nas atividades religiosas como trampolim para alcançarmos posições. E pior ainda, manipular interesses dessa natureza no movimento religioso a que nos vinculamos, misturando situações.São situações distintas, que devem ser respeitadas. Mesmo as coisas mais inocentes podem causar incompreensões e distúrbios desnecessários. Esse é meu ponto de vista.

Quanto a desenvolver foguetes, claro que a humanidade deve perseguir seus aperfeiçoamento. A tecnologia abre novos caminhos. Ao lado disso, no entanto, necessário intensificar o aperto de mãos. Essa é a imagem da aproximação, do acolhimento, da derrubada de barreiras religiosos, de cor, de raça, de especie, de gênero, política e sociais. O coração de quem anseia seguir não só ao Cristo mas ao Deus que lhe toca a alma não pode ser refratário ao irmão de jornada pelo fato dele crer de outra maneira ou que tenha conceitos e visão de mundo diferente dos nossos. Cada alma tem direito de ser ela mesma. Deus encontra-se em toda parte.

Precisamos estreitar mãos, derrubar barreiras, desenvolver o senso de aceitação do outro, o que não implica em defender o que ela defende. É a realidade dele como temos a nossa. Se chamado a explicar a visão nossa ou da religião, ou filosofia que abraçamos sobre determinados temas, façamo-lo, da maneira mais clara possível. Divergir é natural e, até, em certos casos, é enriquecedor. Entrar em confrontos e atitudes de estigmatizar o pensamento diferente significa que não conseguimos internalizar e muito menos transformar em maneira de viver o ideal que nos empolgou. Nossas idéias e crenças não podem se transformar em muros a nos separarem do próximo. A alma tocada pela grandeza do amor, pela limpidez do bem, carece de ser ponte, caminho de acesso do outro ao nosso coração aconchegante.

O Sol da Vida aquece o |Universo. E quem nele crê não pode se esfriar. Agasalhar é viver a mais elevada religiosidade, é solidificar a presença de Deus e das convicções transcendentes através da atitude. Aí se encontra a maior força da espiritualidade: a poderosa energia do exemplo.

Um comentário:

  1. Muito interessante, um dia desses eu estava refletindo sobre isso também, onde percebe-se o rápido desenvolvimento da tecnologia, da ciência, da medicina, isso tudo é muito bom, é maravilhoso, porém seria ainda melhor se o nosso respeito ao próximo, nossa solidariedade, nossa compreensão e nossa compaixão também crescessem no mesmo rítmo! No entanto o que se vê são as pessoas cada vez mais egoístas e indiferentes, onde um singelo e fraterno aperto de mão muitas vezes é ignorado.
    Gostei muito dessa temática! Um grande abraço Frederico Menezes e também à todos vcs, meus colegas deste encantador blog!

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