Na obra que visitei em Maceió, a de Frei José, me chamou a atenção um senhor adormecido, mão agarradas ao espelho da cama. Olhos cerrados, dormia profundamente. Encolhido na cama, parecia refletir sua carência. Talvez o desprezo dos familiares, talvez a ingratidão de um filho. Fiquei imaginando o mundo daquele idoso pequeno, pernas quase atrofiadas. Quais as emoções que habitualmente o assediam ?
Pena que saí de lá e ele ainda estava adormecido, pelo menos quando fui à outra área do espaço simples e amoroso. Não pude estabelecer qualquer contato com sua história, com suas dores e frustrações, assim como com sua esperança ( se a tinha ). Fitei, várias vezes, aquele rosto apagado, fisionomia sofrida, olhos fechados para a sua dura realidade, quem sabe intentando fugir dela, não mais abrindo as pálpebras para não enxergar o mundo que lhe marcou a face com sombras de sofrimento.
Olhei para ele e cheguei a pensar : quem seria aquele espirito para viver tal situação ? qual sua história pregressa ? meu pensamento fixou-se, então, na Suprema Justiça e na Misericórdia Incondicional do Senhor das vidas. O sopro da certeza do caminhar daquele ser para a felicidade refrescou-me o coração. E voltei meu olhar para as outras almas, amparadas pelo alto, naquele pouso da caridade, enquanto o pequeno idoso permanecia adormecido, agarrado ao espelho da cama.
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