Me permitam uma recordação muito pessoal, porem, creio que muitos dos amigos devem guardar experiencias semelhantes. Coisas da alma. Falam que é sintoma da nossa passagem de tempo e acredito. Passados 51 janeiros da atual encarnação, não posso me furtar a esses acenos da memória. A feira livre de minha cidade acordou comigo nesta manhã. E acordou vigorosa, trazendo-me os seus cheiros, o cheiro das verduras e das frutas frescas que se misturavam naquela apoteose que era a feira, talvez uma das maiores do Nordeste ( sem megalomania ). Uma enorme onda de falas e produtos, que vinham dos engenhos e cidades e tomavam becos e ruas.
Enorme e desorganizada, era profundamente democrática e, porque não dizer, anárquica. Caminhando entre os bancos, lá encontrávamos, lado à lado, carne e brinquedos, fumo e caldo de cana, calcinha e panelas. Tudo junto. Sem distinção de preços e qualidade. É ou não um espetáculo de democracia?
Lembro que no sábado, véspera do grande dia da feira ( depois passou a ser na sábado ), o terraço da minha casa virava uma festa. Os feirantes lá dormiam, protegendo-se da chuva e do frio. Antes de adormecerem, enrolavam os coentros e cebolas, deixando o cheiro característico dentro de casa. Chegávamos à noite e tínhamos que pisar com cuidado para não "atropelar" os feirantes enrolados em lençóis rotos. E acordávamos cedo exatamente porque os gritos dos vendedores pareciam , de propósito, invadir os quartos. Mas era uma música aos ouvidos. Acordávamos felizes.
Ah, o cheiro da feira livre... sempre fui muito sensível às recodações estimuladas pelo olfato. E minha infância e juventude brincam com essa recordação. Teimam em estar comigo. E não seria diferente pois todas as experiencias vividas pelo espirito permanecem com ele, formando sua trajetória, construindo o ser redimido do futuro. Vozes e rostos, nomes e fatos bailam, intensos, na memória. Doces recodações que se enriquecem com as presenças amadas de meu pai e de minha mãe. E dos sonhos e medos da criança um tanto "estranha" mas feliz, que eu fui.
Realmente Fred, os cheiros batem forte no sentimento, me emocionei com esta leitura, lembrei-me de momentos da infância/juventude, são momentos muito gostosos!
ResponderExcluirAbraços amigo,
Jorge Luís(esposo de Ana)
Pois é, Fred, quem já não voltou ao passado a partir das recordações a que um perfume nos remete? Perfume de mato, de areia molhada, de pão quantinho e perfume de perfume mesmo. É maravilhoso!! Ótima lembrança...
ResponderExcluirAbraços.