ONDE VIBRA O PENSAMENTO

Diante da imagem de um artista da fotografia entregue à reflexões profundas, não pude me furtar a imaginar onde vibrava o pensamento dele. Em que águas estranhas navegava a embarcação de sua mente. Pensaria, por acaso, em saudades doridas ou cascavilhava os mistérios da vida, tentando entender a morte?

Aquela imagem me fez olhar de forma diferente as palavras mudas de quem parece não trazer qualquer compromisso com a vida ou com algum tipo de reigiosidade. Talvez sua religião seja a busca; a busca por respostas que a quase totalidade das escolas do pensamento humano não possuem.

O olhar perdido, tentando se encontrar, foi profundamente significativo. Parecia que ele escutava uma musica ou uma voz ignota, vinda lá dos confins do universo - e talvez viesse de lá mesmo. O fotógrafo tinha um diáfano véu de sensibilidade que não conseguia encobrir algo de sua alma. Era um véu transparente. Parecia o olhar de Deus, transparente, penetrando em tudo.

Inspirou-me o jovem artista a escrever esta crônica. A vida tem essas facetas. De repente, algo nos sopra a chama e parece que redescobrimos a vida. Um lampejo fulgurante clareia as entranhas, ilumina os labirintos da mente e perfuma o coração da gente. Basta um cheiro,um olhar de um parente ou um estranho, não importa, e nos incendiamos de uma paixão pelo bem e de uma instigante vontade de conhecer melhor à nós mesmos. É como estar envolto na alma de quem amamos, nos braços de quem não queremos nos apartar. É uma catedral que se ergue, de um momento para o outro, dizendo que tudo é sagrado para a alma que ama. O mundo vira uma catedral. O universo, um templo. O outro, uma prece.

Nesta terça feira com muito sol e alguma chuva, creio que fixei, tatuei em mim, o olhar de procura daquele fotógrafo solitário.