SABENDO ENVELHECER

Olhando ao redor de nós somos capazes de enxergar a titânica luta de muitos para lidar com a passagem do tempo. Há os que olham pra as mãos e notam que elas já não possuem a mesma firmeza de antes. Observam os pés e já caminham lentos, quase como se não quisessem obedecer ao comando da mente. Alguns tombam no estado depressivo e vivem enclausuradas no mundo das recordações, lembrando determinadas etapas da vida em que chamavam a atenção do mundo ou facilmente atraíam os olhares de parceiros, encantados com o viço, o charme que apresentavam.

Saber envelhecer é uma arte e, por que não, uma ciencia. A ciencia da alma e a arte de amar e entender a vida em suas múltiplas etapas. Cultivar os valores da alma é dar-se oportunidade de compreender que cada fase tem sua importância, sua riqueza, seu contributo, nos mundos como o nosso, para o agregar de lições na intimidade do espirito.

Não gostaria de ser uma pessoa ranzinza, muito menos raivosa com a proximidade do crepúsculo físico. A mente é tudo; a jovialidade é dinâmica da alma, embora reconheçamos influencia da matéria sobre as disposições do espirito. O entendimento da mudança dos tempos; a tolerância para com o comportamento dos mais jovens que acreditam, toscamente, que não envelhecerão tambem; o persistir em olhar o significado de cada ano em nossa trajetória são recursos de grande alcance para o envelhecimento sereno, harmonioso, sadio. Fazer o bem é garantia de bom humor e alegria nos anos da invernia física. Há, sim, imensa beleza na fisionomia enobrecida daquele que chegou com dignidade à senectude.

Nesta crônica talvez eu já esteja dizendo para mim mesmo como é belo esse momento. Olho para trás e, sinceramente, fico feliz pelas doces recordações de cada etapa da minha atual encarnação. Incluo aí, naturalmente, os erros cometidos que me abriram todo um universo de renovação, toda a força de um desejo de mudança e uma carga de experiencia que me tem sido útil nos dias da chamada maturidade. Me preparo, dessa forma, para o natural envelhecer, feliz e comprometido em viver com a intensidade necessária e com a dignidade possível, os tempos que

virao.

Vibro ao encontrar jovens que erguem-se nas tribunas espiritas e encantam, com seu ardor e conhecimento, o público ouvinte. Encho-me de contentamento ao perceber que muitos deles estão melhor preparados , muito à frente, como a tranquilizar-me , afirmando que os céus não se contentariam com tarefeiros tão limitados quanto eu. E escrevo isso sem qualquer laivo de afetação, creiam-me. Olho-os e me emociono por ver a misericórdia de Deus se expressando através desses novos servos, esses jovens apóstolos da nova era. As sombras tremem e sabem que ante muitos que chegaram tão bem preparados, não terão as mesmas facilidades que tiveram conosco, penetrando-nos as atividades graças as imperfeições que ainda nos caracteriza o ser.

Mas, prossigo feliz e com a mesma vibração de antes. Vou procurando dar o melhor do meu coração, limitado ao que posso alcançar mas falando com o coração e buscando viver, tanto quanto possível, de acordo com o que prego. É difícil, ah, como é...! Prossigamos, porem. É assim que desejo envelhecer: trabalhando e aprendendo com os jovens trabalhadores que aportam na seara. É assim que anseio continuar a viver, com olhos postos no futuro, cheio das inesquecíveis lições dos mais vividos que eu.