DE VOLTA AO COMEÇO

Em termos de espiritismo, para se caminhar seguro para o futuro, imprescindível voltar ao passado. Explico. Terreno fértil de riqueza mas tambem de ervas de fantasia, o universo das coisas do espirito solicita prudencia, racionalidade e consistência. Não por acaso, o codificador teceu observações concernentes aos perigos que espreitam quem penetra na seara sem o devido apoio no estudo sério, gerador da base criteriosa da fé raciocinada. E nesse âmbito, nada mais seguro que adentrar-se na espinha dorsal do espiritismo, estabelecida na codificação e obras de apoio, as chamadas subsidiárias.

Hoje, o público interessado na realidade espiritual tornou-se um filão editorial dinâmico. E aí, temos uma cada vez mais vasta literatura tratando das questões espirituais, obras nem sempre com o melhor conteúdo abordando o tema. Livros sofríveis uns, outros repetitivos, mais alguns tantos cheios de "novidades", sem se levar em conta o bom senso apregoado pelo senhor Allan Kardec em seus escritos iniciais.

Quando coloco isso, não estou dizendo que não haja, nos tempos atuais, obras dignas e a altura daquelas primeiras. Há sim. Temos bons e excelentes autores, tanto espirituais quanto encarnados, enriquecendo a doutrina. Não podemos, no entanto, abdicar da análise justa e equilibrada que nos proporciona a base. Na atualidade, percebo ( e se eu estiver enganado, me perdoem) que a nova geração de espiritistas - os mais jovens sobretudo - não conhecem o portento dos trabalhos não só de Kardec bem como de Leon Dennis, Flammarion e até mesmo os livros de André Luis e Emmanuel me parecem não estariam recebendo o investimento devido no tocante a estarem ao alcance dos que chegam nas instituições espiritas. Claro que existem as casas que são exceção.

Ivone do Amaral Pereira - outra que não é conhecida e nem reconhecida pelos novos seguidores do espiritismo, autora de maravilhosas obras psicografadas como Memórias de um Suicida, Devassando o Invisível e Recordações da mediunidade  - já fazia referencia a isso no início da década de oitenta. Afirmava ela que estava um tanto triste pelos modismos levantados por algumas obras incensada pelo sucesso editorial, enquanto obras de profundo conteúdo doutrinário e estilos elegantes e agradáveis de leitura não conseguiam, as vezes, nem serem publicadas.

A sede do público pelos dramas e novidades não devem predominar nos critérios da difusão da mensagem. A humanidade merece o carinho e o zelo, afim de que tenha o norte, o rumo através de livros que edifiquem sem fantasia e esclareça com a clareza devida. Claro que sei o risco natural que se alcança quando se atinge o patamar de interesse público. Se o Espiritismo ainda não é uma doutrina de massa, já possui uma forte inserção junto a sociedade, cada vez mais admiradora desta e curiosa pelas suas abordagens, e isso tem um preço. Atrai, tambem, outros interesses que podem levar à superficialidade, aos "clichês explicativos dos problemas da existencia.

Tenho lido obras não espiritas, sobretudo as de natureza científica, que me deixaam cada vez mais feliz face à comprovação que estas obras modernas de nossa ciencia fazem daquilo que fora escrito na codificação e nos livros clássicos da doutrina. Eles são atualíssimos. E extremamente ricos. São, estes livros básicos a segurança de se atingir o futuro com o equilíbrio devido. O futuro seguro depende, então, sob esse prisma, de uma volta ao passado, onde tudo começou e onde encontramos a estrutura monolítica do arcabouço doutrinário.