O PAÍS E SEU CAMINHO

Esta semana um amigo me indagava sobre um comentário da presidente do país de que a miséria deveria estar erradicada neste mês de março. Algo assim. E que o Brasil deveria ser, por volta de 2020, uma potência mundial. Naturalmente não me furtei em colocar meu ponto de vista. Falei-lhe que a miséria é algo muito mais complexo que o fato de se viver com mais ou menos de 70 reais por mês. Os números estatísticos podem enganar e muito. E se forem mascarados, então... pois bem. A outra questão relaciona-se com a primeira. Para acabar com a miséria e tornar-se país desenvolvido, é preciso mais que ampliar os valores dos programas sociais. Faz-se necessário mais ampla cobertura de saneamento básico ( temos cerca de 52% dos lares sem esse benefício ), educação de qualidade, perspectivas profissionais  de qualidade efetivas, o que estamos longe de obter face  à pouca qualificação profissional e sub empregos oriundos da falta de educação, infra estrutura real, saúde, acesso à cultura, etc. Estamos longe de alcançarmos tal patamar. Gostaria muito que assim não fosse e que, de fato, em março, não tivéssemos mais qualquer irmão nosso na miséria. Não creio que isso ocorra exatamente pelo fato exposto acima.

Outra coisa que referenda a descrença nessa peça de marketing político - a erradicação da miséria no Brasil - é o fato de visitarmos e realizarmos trabalhos com comunidades carentes através de nossa Casa do Caminho. Quem faz trabalhos como este sabe o quanto temos muito que caminhar para acabar com a miséria e a pobreza. A vila do Pocotó, uma de nossas localidades paupérrimas que visitamos, é a mais expressiva fotografia de uma realidade que, lamentavelmente, não desaparecerá tão cedo de nossas paisagens. Barracos de papelão, sem água encanada, chão de terra, cercado de lixo por todos os lados, é sua realidade. E assim, temos milhares de comunidades por aí á fora. Multiplique isto por todo o nordeste, pelo interior mais esquecido do país. E digo mais: afirmar que milhões deixaram de ser pobres e tornaram-se classe média, é ufanismo demais ou simples jogada de publicidade enganosa. Não basta, através de uma decisão governamental, dizer que a partir de 300 reais per capita, uma família passa a ser de classe média. Como a questão da miséria, outros ingredientes entram na conta. Classe média significa tambem um padrão de vida. Passar a ter acesso a certas compras pelo crédito longo, por si só, não implica dizer que a família vive nos padrões da classe. E agora, pelo que verificamos, a inflação, a famosa carestia, está de volta, minando os já apertados recursos dos cidadãos. 

Acredito muito no Brasil e na Lei do Progresso, no entanto, que os nossos governantes, de qualquer espectro político e partidário, os atuais e os futuros, possam se empenhar em planejar, em organizar e agir pensando nas próximas gerações e não no próximo pleito eleitoral. Potencial temos para avançar mais rapidamente. Com dengue e estradas mortais, violência epidêmica e quadros de corrupção aos montes, hospitais abarrotados e sem medicos ou material, escolas que não preparam e interesses eleitorais permanentes, fica difícil esperar alcançarmos o nível de país desenvolvido nas próximas décadas. Muito menos sem miséria. Espero estar errado mas, infelizmente, não creio que esteja. Trabalhemos e aguardemos o futuro, sobretudo, escolhendo nossos candidatos com consciencia e agindo como cidadãos, tambem fazendo nossa parte, no que toca aos nossos direitos  mas, além disso, concernente aos nossos deveres.