PELAS CIDADES MENORES

Uma amiga, conversando esta noite comigo, externou seu pensamento sobre o singelo trabalho que realizamos, visitando cidades pequenas, comunidades que, em geral, muitos nunca ouviram falar sobre elas, levando a mensagem espírita a estes rincões nordestinos, principalmente. Em geral, esse público não tem acesso aos congressos espíritas, eventos de maior porte, devido a diversos fatores. E não recebem, quase nunca, companheiros mais experientes em termos de doutrina ou que são detentores de mais ampla cultura doutrinária.

Segundo o último censo realizado pelo IBGE, o espiritismo apresentou um significativo aumento em número de adeptos, cerca de 80% em relação ao levantamento anterior. E ainda segundo a instituição de estatística nacional, o maior número de espíritas declarados se encontram no sudeste, sul e centro oeste, nessa ordem. O menor número de seguidores espíritas se localiza  no norte e nordeste.

A doutrina espírita se caracteriza pelo grande estímulo ao estudo, a leitura. E nas duas regiões com menos seguidores é onde encontramos o maior número de analfabetos ou de pessoas com menor índice de leituras. Ou seja, em observando outros dados apresentados pelo IBGE, a população espírita se localiza, predominantemente, nas classes média e alta, com maior renda per capta e maior nível de escolaradidade. O espírita possui o maior número de tempo escolar.

A dedução dessa realidade nos parece clara: o espiritismo encontra-se perfeitamente consolidado na classe média e alta, com grandes perspectivas de continuar avançando nesses estratos sociais face ao seu forte apelo à fé raciocinada e análise dos fatos, com características filosóficas e científicas bem ao gosto da parcela mais esclarecida da sociedade. Quando nos voltamos para os obstáculos que dificultam a maior popularização do pensamento espírita na faixa mais desprovida de escolaridade e condição sócio econômica, aí é que devemos avaliar o que estamos fazendo para que esses corações localizados na base da pirâmide tenham acesso à consolação da grande mensagem.

Agora entendo melhor o incentivo que os espíritos sempre me deram para que continuasse ampliando a interiorização da difusão espírita. O espiritismo veio para o povo, de todas as condições, de todos os estratos, pensamento este defendido pelo Chico Xavier em várias de suas entrevistas, e nos relatos dos seus amigos mais íntimos era esta uma preocupação recorrente no médium mineiro. É preciso levar a mensagem para os locais mais simples, para as mentes ainda não acostumadas ao raciocínio espírita, numa linguagem que as façam compreender sua grandeza. É preciso chegar ao povo.

Cada vez que retorno de um ciclo de palestras como este que realizei pelo interior potiguar sinto uma imensa alegria.  Vejo o quanto há uma enorme sede da verdade como colocada pelo espiritismo. Não devemos subestimar a capacidade de absorção das pessoas menos letradas, diríamos assim. O que mais vale quanto ao conhecimento espiritual é a maturidade psíquica, a evolução que a alma alcançou, o que lhe permite, mesmo que vivendo em condições de pouca escolaridade, absorver, intuir e decodificar, os ensinamentos espíritas. E mesmo que alguns corações não apresentem a devida maturidade espiritual para o recebimento do conhecimento espírita, ficará a semente, aguardando o tempo certo para desabrochar. Importante é que possam ter acesso.

Ainda esse ano terei a oportunidade de ir a cidades como Florânia, Lagoa Nova, Santa Cruz, Jardim do Seridó, Parelhas, Picuí, Frei Martinho, Piaçabuçu, Coruripe, Surubim, Canhotinho, São Bento do Una, Nazaré, União dos Palmares, João Alfredo, Passira, Souza, Petrolina, Bom Jardim, Limoeiro e outras cidades do interior nordestino, recebendo a luz da bondade de seus habitantes, o carinho dos confrades heróicos que mourejam com renúncia e abnegação em terrenos ainda minados pelo preconceito religioso. Dentro do exposto, rogo aos céus me permita continuar tendo a honra de ir até essas localidades. Lá posso até disseminar a mensagem mas afirmo, recebo verdadeiras lições de cristianismo legítimo, sendo eu, portanto, o grande beneficiado nessas atividades.