Fui chamado por um jovem que deu-me o recado de um querido amigo de juventude. Eu sabia que ele estava com um câncer devastador no reto. Já o havia visitado na residencia em que ele está abrigado. Trabalhava em construção civil numa grande empresa brasileira, lá no Rio Grande do Sul. O problema surgiu agressivo. Tudo muito rápido.
Fui ao seu encontro após o recado que ele desejava falar-me. Encontrei-o muito magro mas não abatido como fosse de esperar. Abraçamo-nos como naqueles longínquos tempos de grupo de jovens. Entramos na casa e fomos até o seu leito. Uma saudade dos velhos tempos invadiu-me com uma certa suavidade. O amigo me falou que a quimioterapia e a rádioterapia não funcionaram e os médicos lhe deram apenas cerca de dois meses de vida. Ouvi com serenidade, embora sensibilizado pela situação. Ele me falava isso com grande naturalidade e altivez. não havia qualquer expressão de mágoa ou frustração, muito menos de medo, na sua voz .
-Não estou com medo de morrer, meu amigo. Voce me conhece e sabe que eu estou falando a verdade.
Ele tem conhecimento espirita. Várias vezes, em nossa juventude, conversávamos sobre Espiritismo e,quando me dediquei à causa, algumas vezes estivemos juntos trocando idéias à respeito. Ele sabe que a vida continua e não teme a passagem. Percebi grande sinceridade no que ele me dizia sobre se sentir preparado para a "viajem". Muito sereno e tranquilo quando se referia ao fato de ter possíveis dois meses de vida física. Quantos de nós guardaria tal serenidade e calma com semelhante noticia?
Vi mais uma vez como o conhecimento da verdade espiritualista é capaz de assegurar firmeza e tranquilidade à alma que sofre. A resignação do meu amigo ante a doença era comovente. E desejava apenas solicitar-me a presença em seu feneral, ao lado de um nosso amigo em comum, o pastor Herivaldo, da igreja Batista da COHAB, belo missionário de Jesus em nosso municipio.
Fitei o amigo nos olhos e tentei passar-lhe o meu carinho, o meu afeto verdadeiro. Era um gigante que estava ali, conversando comigo. Agigantou-se ante os meus olhos. Ainda que ele se vá em dois meses, o cancer não o venceu. Ele viaja vencedor. Sabe que a doença é puificadora. E está pronto para avançar na direção das luzes mais belas dos mundos melhores. Assim espero.
Graças ao Espiritismo pudemos conversar com proveito à respeito da sua partida. E divisamos o amanhã.
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