SURPREENDENTE CONDIÇÃO

Caros amigos, há alguns anos tive o prazer de psicografar um livro ditado por vários espiritos que viveram, na Terra, a prova da hanseníase. Este livro pretendo reeditar em breve. Dentre tantas mensagens que considero muito interessantes, esta, do espirito Isaura, reputo como carregada de belo e instrutivo conteúdo. Espero que tambem achem. O LIVRO ONDE ESTÁ INSERIDA A MENSAGEM CHAMA-SE " OS fILHOS DE LÁZARO " -DPL.


SURPREENDENTE CONDIÇÃO


Após a morte nos vemos em surpreendente condição. Embora a realidade espiritual seja nossa verdade essencial, a mente humana se acostuma a pensar como se pertencesse aao mundo da matéria.

O despertar na dimensão do espirito guarda sempre inusitadas imagens. Em meu caso foi algo como se me sentisse um balão solto, sem amarras. O corpo me pareceu pesada algema a me confinar em torturante calabouço. A limpidez mental, a acuidade do pensamento, a leveza de meu novo ambiente causou-me, de imediato, profundas reflexões. Olhava o corpo cadaverizado, tomado pelas marcas da hanseníase e era como como se eu me olhasse ao espelho, ao mesmo tempo em que parecia olhar outra pessoa, bem semelhante a mim. Passei a entender o estado de confusão de muitas almas ante experiencia dessa natureza. A falta de preparo para a vida após a morte envolve em dolorosa perturbação milhares de espiritos. É, sem, dúvida, uma experiencia enlouquecedora para uma pessoa sem qualquer concepção da vida espiritual se ver em duas realidades.

Olhando o organismo que me serviu durante longos anos no expurgo da Terra, fui assomada por ternura imensa, síntese de gratidão pelos anos de serviço redentor que aquela abençoada "máquina" me ofertara.

A sensação de liberdade estava associada à participação do corpo físico. Algo me dizia nitidamente que ele fora o filtro que drenara vários elementos que possivelmente me prenderiam às vibrações mais densas da matéria. Em meio à prece que deixei subir aos céus pelo enfadado corpo, recordei que agora eu seria um fantasma para o mundo e que, possivelmente, muitos passariam a temer minha presença espiritual pois o temor de almas defuntas atormenta quase toda a humanidade.

Mas a realidade era contundente. Eu não era um espectro, nada possuía de vago, não era uma fumaça. Embora a leveza, eu me sentia "sólida", tocável, conquanto o organismo rarefeito que me revestia o ser. Tudo em volta era claridade e esta claridade me impulsionava para enxergar-me sem subterfúgio. Eu "via" os pontos positivos que havia adquirido bem como se me desnudava à consciencia os erros cometidos. Não era nada assustador mas imensamente interessante verificar como tudo, nos mínimos pensamentos, estava ali guardado nos refolhos do meu coração. Cada atitude tomada, cada gesto feito em direção a alguem, cada palavra, cada momento vivido, ali estava, como um filme. Ao mesmo tempo em que era espectadora, senti emoções do momento como revivendo os fatos literalmente.

Nada é em vão no universo. Em toda ocasião Deus proporciona ao espirito aprender consigo mesmo, com as próprias experiencias. E posso afirmar que cada dor da doença, cada ferida aberta, pode gerar em mim um estado de gratidão, como representando uma algema em miniatura que estivesse se rompendo. Esta sensação, segundo os amigos do Mais Alto que me assistiam, era objetivamente uma especie de "quitação consciencial", algo que estava deixando definitivamente para trás na minha história de evolução.

Surpreendente condição em que me vi. Feliz pela liberdade a plenos pulmões e tão grata e amorosa para com o corpo alquebrado, dilacerado, que ali estava a ser sepultado. Ansiando o infinito e tão tocantemente ligada pelo coração à forma que me servira incondicionalmente. Depois compreendi que estava sendo grata ao Senhor da vida pela oferta do corpo no sublime cadinho da reencarnação.

Sejamos sempre gratos aos instrumentos que utilizamos para atingir ares mais elevados. Quase sempre esquecemos dele, do corpo, e nos queixamos pelas suas mazelas, pelas dores, pelas enfermidades que, muitas vezes, somos nós, imprevidentes, que o agredimos desrespeitosamente.

Aqui, como espirito desencarnado, é que enxergamos, muitas vezes em lágrimas, o quanto Deus nos cumula de recursos libertadores, cheios de misericórdia e grandeza. Sejamos gratos.


ISAURA