Li agora a pouco um artigo da jornalista Ana Paula Padrão referindo-se, no contexto do artigo, a uma gafe que ela cometeu na rede Record de televisão, gafe essa que remontava à sua participação nos tempos de Rede Globo. Interessante o artigo da jornalista pelo fato de ter colocado de maneira tão precisa e humana, o terríel tributo que se paga quando estamos atrelados ao ser "perfeito", tanto para a própria consciencia quanto para as outras pessoas.
Ela expôs uma verdade dolorosa. Sim, há sempre algo de sombrio na intimidade de quem carrega a aparencia ou o compromisso ( dado pelos outros ) de ser sempre correta, perfeita. Começa o drama pela auto cobrança. E termina por introjetar na criatura a sensação de que todos podem falhar, menos ela. Quando observamos o choro de frustração dos favoritos nas diversas modalidades olímpicas, verificamos que elas não aceitam o fato de não terem sido "perfeitas", de ter falhado, de ter errado.
No tocante às religiões, isto se caracteriza de maneira vigorosa. Muitas pessoas de valor são levadas ao paroxismo do auto julgamento destrutivo face aos conceitos que desenvolveram ( e alimentado pelos outros) de que, por serem religiosas, jamais podem errar ou frustrar as expectativas dos "pecadores". Creio que a maturidade deve corrigir isso. O problema é que até chegar a essa maturidade, quanto sofrimento, sentimento de culpa e desespero. Há até os que se afastam da religiosidade para tentar se aliviar no tocante às cobranças por ser aquele que não falha. E perdem, assim, a sua dimensão humana.
Esse é o caminho, quase sempre, da hipocrisia, elemento combatido veementemente por Jesus, exatamente porque ele induz a criatura ao jogo das aparencias, do que não se é, das ilusões e fantasias, do apartar a criatura de si mesmo, propiciando a criação de um universo irreal na intimidade do ser.
Há uma imensa ausencia de caridade e respeito humano no fato das pessoas pressionarem alguem para ser infalível. Natural que tenhamos referencias, admirarmos pessoas que injetam esperanças na alma coletiva mas é outra coisa transformar isso na negação da humanidade de quem admiramos. Muitos são levados à falsificar, mistificar, pelo fato de não desejarem manchar a própria imagem ante as expectativas dos outros. E haja sofrimento.
Uma das mais belas expressões de acolhimento é quando voce se sente amado pelo que voce é e não por que acreditam que voce é "mais", dentro das expectativas que criam a seu respeito. E, ante isso, dá para imaginar que nós mesmos tambem devemos fazer o mesmo aos outros, conforme gostaria que a mim me fizessem. Muitas feridas psicológicas nascem desse vórtice vertiginoso de "perfectibilidade" que estamos longe de alcançar. Viver fora de sua natureza é criar mecanismos distônicos. Ou seja, se somos humanos, como ser anjo, próxima etapa do processo evolutivo ?
Isso não significa que vamos dar vazão à instintos e paixões que brutalizam pessoas ou ferem outras criaturas, só pela filosofia de ser o que somos. Essa tambem seria uma distorção, com largos efeitos ante as leis morais da vida. O que me refiro é a generosidade para consigo mesmo, o auto conhecimento, o identificar das próprias necessidades morais, favorecendo, quando feito com sinceridade, a generosidade e a compaixão para com os outros, para com os defeitos que aqueles que nos cercam carregam em si. A tolerância começa aí. E Jesus não deixou passar a questão. Era essa sua postura, que lhe permitia acolher mulheres caídas e dizer para os próprias fariseus que elas, as caídas, entrariam primeiro que eles, nos reino dos céus.
Sejamos nós mesmos em nossa dimensão humana, sempre buscando o que há de mais digno, nobre e belo nessa condição. Ajamos com a lucidez de consciencia que nos permitirá, sem perder o respeito à nossa fragilidade humana, trilhar os árduos caminhos da ascensão aos círculos superiores da vida. A saúde emocional pode iniciar por aí. Se brigarmos conosco de maneira destrutiva, como nos amaremos ? Amargos e mau humorados para com nossa deficiencias, como agasalhar, acolher os iguais, necessitados de amparo ?
É um tremendo peso alguem carregar a imagem de que jamais cometerá um erro na vida, alimentando o jogo de imagens dos que, não podendo ser santo, exigem que alguem o seja, dessa maneira, carregando nosso fardo de possíveis equívocos. Penso que muitas virtudes do evangelho nascem, exatamente, da aceitação de nossas próprias fragilidades. Isso nos auxilia a identificação com quem errou, faliu ou coisa semelhante. Gera a empatia. Seremos mais cristãos se formos mais humanos com os humanos, inclusive, com a nossa própria humanidade.
Escrevo este texto em apoio aos que, como eu, erra na vida , recomendando-lhes que busquemos, no entanto, aprender com os erros a fim de superá-los e corrigi-los, com a seriedade dos sérios e a leveza dos felizes, dos que se sentem acolhidos pela misericórdia da Deus
É preciso dar uma margem de erro para os outros, inclusive para os melhores. Nada pior do que errar junto a uma pessoa cheia de ressentimentos, vira uma inquisição.
ResponderExcluirAmigo, eu não saberia acrescentar nem uma vírgula ao seu raciocínio.
ResponderExcluirExcelente!!
Olá Fred.
ResponderExcluirRealmente um texto que nos proporciona uma reflexão a respeito do tema "perfeição". Quantos de nós ainda cometemos as nossas "gafes" sociais? Quantos de nós ainda nos esquivamos do necessitado quando vem em nossa direção pedindo ajuda? Quantos de nós deixamos de participar do crescimento de nossos filhos, com a desculpa de querer proporcionar-lhes um futuro melhor, nos prendendo aos bens materiais que cercam o nosso dia a dia? Seja como for, sabemos que ainda estamos longe da tão sonhada "perfeição".
Aproveito para fazer uma pergunta. Na verdade queria saber sua opinião.
É possível que num futuro próximo, as pessoas possam utilizar os métodos da terapia de regressão, para, de alguma forma, escolher melhor as suas profissões e de evitar as chamadas frustrações ?
Sem mais, desejo toda paz do universo pra você.
Seu "amigão".
Edson Leite
Maceió/AL