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quarta-feira, 14 de abril de 2010

VENDIA O CORPO E FOI UM ANJO

Em meu livro "A Vitória de Deus", escrevi um capítulo referente à vida de dona Angelina, moradora da vila Claudete, bairro da minha querida cidade, Cabo de Santo Agostinho. Nosso encontro foi extremamente emocionante,em plena véspera de Natal, quando fazíamos o primeiro ano do nosso projeto: Onde Jesus Passaria o Natal, isto há 8 anos atrás. Estabelecida uma intensa proximidade com aquela senhora de cerca de setenta anos de idade, sofrida mas muito alegre, apesar da dificuldade respiratória, ela nos contou, dentre outras histórias, peculiaridades do seu nascimento. Foi uma narrativa pincelada por um colorido todo especial como ela sempre o fazia contando seus casos. A emoção pela beleza dos elementos constitutivos daquele nascimento me tomou profundamente e, creio, tambem envolverá a voces, meu amigos do blog.

Contou D. Angelina que sua mãe estava grávida dela, lá pela distante decada de trinta, no século passado. Era inverno rigoroso. Chuvas torrenciais haviam enchido os córregos e rios, no interior de Pernambuco. Certo dia, sua mãe resolveu tomar banho no rio. Estava com quase nove meses de gestação. A correnteza forte não a assustou. Entrou nas águas barrentas e, de repente, sentiu câimbra e perdeu forças,sendo tragada pela correnteza. tentou resistir mas estava engolindo muita água. Parecia que seria o fim daquela existencia e do bebê(que era nossa Angelina).Mas Deus tinha outros planos para elas.

Naquele momento dfícil, foi passando no local, no alto de um barranco que margeava o rio, uma mulher que vivia a amarga vida da prostituição. Ao olhar para o rio, ela percebeu que alguem estava se afogando. Num gesto automático, a prostituta rasgou a propria roupa, ficando despida, amarrou o vestido rasgado(e talvez o único que possuía) numa árvore, entrou nas aguas agitadas, arriscando a própria vida(parece-me que não sabia nadar) e retira a mãe de d. Angelina do perigo. Leva- a para o seu barraco e lhe esquenta com seu cobertor roto. As dores do parto se apresentam naquela hora, aumentando a dramaticidade da situação. A irmã salvadora fez, ela mesma, o parto e segurou dona Angelina nas mãos trêmulas de emoção. Cudou das duas com grande carinho. Salvou duas vidas num rasgo de abnegação e sacrifício, pondo sua vida em risco.

Quantos cristãos teriam agido dessa maneira? amplio a questão: quantos religiosos arriscariam sua vida dessa forma por um estranho, amparando com seus parcos recursos como ela o fez? Essa história eu intitulei no livro assim:" Vendia o corpo e teve um gesto de um anjo". Foi um anjo, sem dúvida.

Creio que esse fato real que me foi contado por um dos personagens da história nos fornece diversos elementos de reflexão à respeito de preconceitos, julgamentos duros, exclusão moral que, lamentavelmente, campeia nos meios religiosos. Consoante o aprendizado da sabedoria espiritual verificamos que a vida real contribui para que busquemos a alteridade, a ciencia do bem conviver com as diferenças,sem julgamentos e muito menos condenações. Não conhecemos as qualidades dos seres que nos rodeiam, mesmo aqueles que apresentam, efetivamente, seus defeitos mais graves. Não conhecemos os espiritos que cruzam nossos caminhos, quem são, de onde eles vem e para onde se dirigem, assim como nem a nós mesmos ainda conhecemos.

Vale uma sincera reflexão de nossa parte para que as luzes da humildade clareiem nossos caminhos e sintamos a alegria de viver com essa magnífica diversidade de seres humanos que nos rodeia.

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