GNOSE - A BUSCA DO CONHECIMENTO

Eles foram rotulados, nas proximidades do terceiro século da era cristã, como hereges pelos cristãos ortodoxos que já se formavam. Foi o período que se armava o movimento cristão como um poderoso sistema político. Já estava existindo o bispo de Jerusalem, a quem se deveria reportar o movimento cristão para tomar determinadas decisões. Interessante que, na verdade, quem deveria ser chamado de hereges eram os ortodoxos pois que os gnosticistas desejavam manter a pureza dos ensinamentos de Jesus e das práticas do primeiro século, ou seja, intentavam preservar a comunhão com o mundo espiritual, falando da pre-existencia da alma, sua sobrevivencia após a morte e a continuidade da alma na dimensão espiritual. Estudavam o intercâmbio com os vivos da espiritualidade através dos carismas e pregavam a reencarnação. Enquanto isso, a vertente do cristianismo que se tornou maioria e havia derivado para o poder temporal, político, optou pela quantidade e pela dominação de consciencias, desvirtuando os ensinamentos do Cristo e criando a teologia predominante nos dias atuais, marcada pela destinação definitiva após a morte e o silêncio no intercâmbio mediúnico. Calando-se os instrutores do mundo invisível, os sacerdotes ganhavam a primazia da orientação às ovelhas, destruindo o respeito que os profetas ou médiuns do periodo gozava entre a população.

Gnosticista é aquele que crê na conquista do conhecimento como forma de evolução, desenvolvendo senso crítico e se interesando por todo pensamento ou idéia que possa favorecer a auto-iluminação Poderíamos dizer que o Espiritismo seria, para as religiões predominantes, a gnose da contemporaneidade. Construtor do livre pensamento e apologista da fé raciocinada, alem de pregar a reencarnação, a pre-existencia da alma e lei de causa e efeito, a doutrina dos espíritos causou, em seu início, um impacto colossal nas vertentes "oficiais". Hoje, no entanto, já não se pode esmagar as novas idéias como ocorria há muitos séculos atrás. Lentamente, as pessoas vão se abrindo para os conceitos mais amplos sobre a vida e a presença de Deus, nos moldes que existiam no cristianismo primitivo. As pedras das sepulturas se abriram e as vozes proféticas novamente se fizeram ouvir, ameaçando a hegemonia dos que traçam caminhos ao povo conforme os interesses do poder temporal.

Não há como deter a abertura dos novos horizontes. A salvação coletiva pela atitude de Jesus perde força a cada dia. A libertação espiritual pelo esforço pessoal, pela auto iluminação, avança nas consciencias pois é a ideia mais adequada àqueles que amadureceram ao longo das várias vidas. A lei do progresso é inexorável. Claro que ainda a estrada é longa. Há muito chão a ser percorrido, no entanto, o fermento cresce e a terra começa a ficar cada vez mais preparada pra retomar as grandes verdades espirituais, livres de dogmas e ritualísticas. Aliás, os rituais bem servem à dominação e permanencia do status quo pois quanto mais ritos e práticas externas menos se pensa e se volta para dentro. Esse olhar interiorizado irá promover a convicção que o Reino está dentro de cada ser, em um universo a espera do nosso mergulho.

Mas a cada estômago o alimento compatível. A cada mente, o raciocínio adequado. A sabedoria se acende lentamente para que sua luz não cegue, ofuscando ao invés de clarear. Usando o tempo para a devida semeadura, a sabedoria saira´vitoriosa.